AO PASSO que você pode construir rapidamente uma choupana, certamente não poderá construir um palácio da noite para o dia. Dá-se o mesmo no que diz respeito a fazer discípulos. Não é tarefa fácil edificar em outros profundo apreço por Jeová e por suas normas. Exige bastante tempo e perícia para produzir tais “palácios”. Realizar isso envolve mais do que transmitir conhecimento. Conforme diz Provérbios 3:1: “Filho meu, não te esqueças da minha lei, e observe teu coração os meus mandamentos.” Precisamos ensinar aos nossos estudantes o que a Bíblia diz. Mas, mais do que isso, a verdade da Bíblia precisa ficar gravada no coração deles. Sim, é o coração que precisamos atingir, se havemos de edificar qualidades à prova de fogo naqueles a quem instruímos, ajudando-os a desenvolver uma forte relação com Jeová Deus.
Evidentemente, isto é mais fácil de dizer do que fazer. Para atingirmos corações, não só precisamos ter materiais de construção apropriados, mas também empregar a “arte de ensino”. (2 Timóteo 4:2) Não basta transmitir a verdade aos nossos ouvintes. Antes, a “arte de ensino” envolve ajudá-los a refletir e a raciocinar sobre o que aprendem. Não quer dizer que a nossa engenhosidade ou os nossos métodos possam produzir desenvolvimento espiritual; é a bênção de Deus que importa. (1 Coríntios 3:5, 6) Não obstante, há algumas sugestões que podem ajudar-nos a atingir o coração das pessoas. A medida que consideramos esses pontos, tenhamos em mente aqueles a quem você instrui — seus futuros estudantes da Bíblia e seus filhos.
Exemplos perfeitos
Que exemplo melhor de atingir o coração das pessoas poderíamos ter do que o do próprio Jesus Cristo? Por que era ele tão eficaz em atingir o coração das pessoas? Em primeiro lugar, Jesus praticava o que pregava, provendo excelente exemplo para seus seguidores imitarem. (João 13:15; 1 Pedro 2:21) Esta, pois, é a primeira sugestão: Dê o exemplo correto. Não é só lógico que devamos ter as mesmas qualidades cristãs que desejamos edificar em outros? Conforme Jesus o expressou: “Todo o aluno bem ensinado será como o professor.” — Lucas 6:40,
A Bíblia mostra repetidas vezes a relação entre dar o exemplo correto e atingir o coração das pessoas. Por exemplo, Deuteronômio 6:4-6 indica que o amor a Jeová tem de “estar sobre o teu coração [o dos pais]” antes de poderem incuti-lo no coração dos filhos. (Provérbios 20:7) Em contraste com isso, Jesus censurou os fariseus hipócritas dos seus dias, pois ‘diziam, mas não realizavam’. É de se admirar que o coração do povo ficara “embotado”? — Mateus 23:3; 13:13-15. Portanto, precisa haver harmonia entre o que você ensina e o que você pratica. Por exemplo, se deseja edificar nos seus estudantes ou nos seus filhos o amor a Jeová e o desejo de agradá-lo, então não devem eles poder perceber mediante suas orações, sua conversa e suas ações a evidência de tal amor e desejo em você? Se deseja infundir forte devoção aos princípios bíblicos, não devem eles primeiro ver que você, mediante suas palavras e suas ações, não procura fugir desses princípios? Aqueles a quem instruímos, especialmente os nossos filhos, amiúde prestam mais atenção ao que fazemos do que ao que dizemos. Quando os outros notam que vivemos em harmonia com o que ensinamos, estamos em melhores condições de atingir o coração deles.
é sábio fazer perguntas
Uma segunda sugestão, outra coisa que fez de Jesus um instrutor tão eficiente, é o uso de perguntas. Jesus foi mestre em fazer as pessoas refletir e raciocinar. (Mateus 17:24-27) Grande parte do êxito que terá em atingir o coração daqueles a quem instrui dependerá do uso que faz de perguntas. Por quê? Em primeiro lugar, por fazer perguntas poderá determinar se a pessoa interesssada está realmente entendendo o que está aprendendo. Afinal de contas, se ela não entender e aceitar as informações, como poderão estas arraigar-se no coração deles? (Lucas 8:15) Em segundo lugar, para se atingir o coração, é útil saber o que há no coração. Idéias preconcebidas e ensinos religiosos falsos podem estar fortemente entrincheirados. Visto que não podemos ler o coração, precisamos fazer perguntas que especialmente façam o as pessoas a expressar com suas próprias palavras o que sente no coração. Considere alguns exemplos.
Suponhamos que esteja considerando um texto sobre como “Os Espíritos Iníquos São Poderosos”, e uma pessoa indaga: “Que exemplo dos primitivos cristãos em Éfeso convém ser imitado quando alguém quer livrar-se do espiritismo?” talvez tal pessoa tenha praticado o espiritismo durante muitos anos e se tenha tornado até mesmo um adepto convicto. Neste caso, a mesma está convencida de que deve romper com isso? Talvez tenha de perguntar: ‘O que acha disso? Como poderá aplicar esta informação na sua vida?’ A maneira em que ela responder agora poderá revelar até que ponto a informação atingiu o coração dela.
Outro exemplo que seria bom considerar com a pessoa: “A Luta Para Fazer o Que É Correto”, ou “Que ponto de vista, expresso por um jovem, seria sábio termos?” Você talvez tenha de sondar gentilmente um pouco mais a fundo: ‘Mas o que você acha a respeito disso? Parece-lhe razoável este ponto de vista?’ Ou poderá propor uma situação: ‘Suponhamos que alguns jovens na escola estivessem fumando e lhe oferecessem um cigarro? Que dizer de se vários outros jovens estivessem observando e começassem a gozar de você por não o aceitar? O que faria?’ Tais perguntas, quando usadas com discrição, podem ajudá-lo a descobrir o que há no coração do seu filho. Entretanto, uma palavra de cautela. Às vezes tais perguntas podem resultar em respostas que o surpreendam ou desapontem. O que fazer então? Se se tratar dum assunto delicado, talvez seja melhor não forçar a questão, mas dizer: ‘Por ora, vamos passar adiante. Conversaremos novamente a respeito disso em outra hora.’ (João 16:12) Os pais, em especial, devem tomar tal precaução. Quando conceitos errados são expressos, contenha suas emoções.
Saliente a Sabedoria de se Obedecer às Leis de Deus
Uma terceira sugestão é ajudar a pessoa interessada a ver a sabedoria de se obedecer às leis de Deus. (Deuteronômio 4:5, 6; 10:12, 13) Isto pode tocar o coração dela. De que forma? Bem, se ela estiver convencida de que guardar as leis de Jeová visa os melhores interesses dela mesmo, isto poderá induzi-la a amar a Deus e a querer agradá-lo. — Salmo 112:1. Como poderá ajudar aqueles a quem instrui a ver a sabedoria de se obedecer às leis de Deus? Poderíamos ilustrar isso por comparar as leis de Jeová com avisos de “Entrada Proibida”. Embora tal aviso seja em si mesmo uma advertência, não concorda que, quando o aviso indica o motivo da advertência, obedece-se mais prontamente? Por exemplo, se o aviso dissesse “Entrada Proibida — Alta-tensão”, o prospectivo infrator, reconhecendo a possibilidade de dano pessoal, estaria mais inclinado a acatar a advertência.
Dá-se algo similar com as leis de Deus. Não fale simplesmente a uma pessoa sobre o que a Bíblia diz ser correto e o que ela diz ser errado; ajude-a a ver por que determinado proceder é sábio ou imprudente. Raciocine com ela sobre como a obediência às leis de Deus o beneficiará. Ajude-a a ver as conseqüências de desrespeitar esses requisitos. A própria Bíblia faz isso às vezes. Leia por si mesmo Provérbios 22:24, 25; 23:4, 5; 24:15, 16, 19, 20. Note que em cada caso a Bíblia mostra o motivo de o proceder ser bom ou mau. A título de ilustração, considere como as perguntas e os textos que se seguem enfatizam a sabedoria de se obedecer às leis de Deus.
Mentir, Roubar: Por que é prejudicial a desonestidade? (Provérbios 15:27; 20:10; Revelação 21:8) Por que vale a pena ser honesto ao lidar com outros? (Provérbios 3:3, 4; 12:19; Hebreus 13:18)
Fornicação: Como pode a imoralidade prejudicar-nos? (Provérbios 5:9; 7:21-23; 1 Coríntios 6:18) De que modo poderá prejudicar a outros? (1 Tessalonicenses 4:6; 1 Coríntios 5:6; Hebreus 12:15, 16) Que proveito tira você de acatar as normas morais da Bíblia? (Provérbios 5:18, 19; Hebreus 13:4)
Após raciocinar desta forma a respeito duma lei bíblica, poderia perguntar: ‘Acha que Jeová visa os nossos melhores interesses? Concorda que as leis dele realmente não nos privam de algo bom?’
Durante uma palestra com uma pessoa interessada, raciocine de modo similar sobre a lei de Deus a respeito da bebedice, do pagamento de impostos, do fumo, da questão do sangue, e assim por diante. Desta forma esta pessoa será ajudada a ver que todas as leis de Deus são para o nosso bem. Não é o caso de que essa pessoa sempre deva necessitar de motivos para obedecer a Deus. Mas, alguns exemplos poderão ajudar a atingir o coração dela, induzindo-a a querer agradar a Deus. Assim, quando vier o “fogo”, ou o teste, ele obedecerá mais prontamente a palavra de Deus. — 1 Coríntios 3:13.
Ajude-as a Conhecer a Deus
Uma quarta sugestão é: Ajude essas pessoas a conhecerem a Deus. (João 17:3) Mais do que simplesmente ajudá-las saber que Jeová existe e tem um nome, ajude-as a chegar a conhecê-lo intimamente. Isto tocará o coração delas, pois quem conhece a Jeová ama-o. Como poderá ajudar tais pessoas a conhecer intimamente a Jeová? Em primeiro lugar, é impossível amar alguém a menos que se conheça as qualidades e os modos dele. Portanto, durante um estudo, sempre tenha presente dirigir a atenção para as qualidades incomparáveis de Jeová. Isto pode amiúde ser feito, não importa que assunto esteja considerando. Por exemplo, ao considerar o resgate, poderia pausar num momento apropriado e perguntar: ‘De que modo a provisão do resgate magnifica a profundeza do amor de Jeová por nós?’ Ou, quando estiver considerando o motivo de Deus permitir a iniquidade, poderá perguntar: ‘Como demonstrou Jeová grande longanimidade em face da iniquidade do homem?’, ou: ‘Como mostrou Jeová inigualável sabedoria ao lidar com a rebelião no Éden?’ Raciocinar deste modo ajudará a edificar no íntimo das pessoas um forte sentimento de devoção a Jeová. Ele passará a encarar a Jeová como Pessoa cujas qualidades ganham seu afeto e lhe são atraentes.
Além disso, não se consegue chegar a conhecer alguém sem que haja algum tipo de comunicação. De modo similar, as pessoas não poderiam usufruir uma relação íntima com Jeová sem se comunicar com ele. Reconhecendo isto, ensine as mesmas a orar. Ajude-a a ver a ampla gama de assuntos que podem ser corretamente considerados em oração. (1 João 5:14) Gere nelas apreço por Jeová como Aquele que tanto ouve como responde a orações. (Salmo 65:2) Incentive-as a expressar seus sentimentos mais íntimos, a ‘derramar seu coração’ diante de Jeová. — Salmo 62:8. Novamente, seu próprio exemplo é importante. Refletem suas orações a profundidade da sua devoção a Deus? Isto pode ter um efeito muito salutar sobre aqueles a quem instrui, inclusive seus filhos.
A Recompensa
Portanto, se havemos de edificar em outros qualidades à prova de fogo, ajudando-os a desenvolver uma boa relação com Jeová, precisamos atingir o coração deles. Pode não ser fácil fazê-lo, mas é recompensador. Paulo indicou isso quando disse: “Se permanecer a obra de alguém, que sobre ele construiu, receberá uma recompensa; caso se queime a obra de alguém [por ter feito uma construção ruim, não usando materiais à prova de fogo], sofrerá perda [isto é, o que ele construiu será destruído pelo “fogo”], mas ele mesmo será salvo; contudo, neste caso, será como por intermédio de fogo.” Qual é a “recompensa”? Evidentemente, Paulo tinha em mente algo diferente do prêmio da vida eterna na Nova Ordem de Deus, mas note que aquele que fez uma construção ruim perde a “recompensa”, embora ele mesmo possa ser salvo, caso passe com êxito pelo “fogo”. — 1 Coríntios 3:14, 15.
Qual é então essa, “recompensa”? Algo que Paulo disse aos tessalonicenses lança luz sobre isso. Aos cristãos que ali estavam sendo perseguidos, Paulo escreveu: “Qual é a nossa esperança, ou alegria, ou coroa de exultação — ora, não sois de fato vós? — perante o nosso Senhor Jesus, na sua presença? Vós, certamente, sois a nossa glória e alegria [“o nosso orgulho e a nossa alegria!”]” (1 Tessalonicenses 2:19, 20) Paulo havia ajudado aqueles tessalonicenses a aprender a verdade. E, embora enfrentassem perseguição desde o início, mantinham-se firmes. A recompensa de Paulo era a alegria de vê-los perseverar em face de oposição. Isto comprovava que Paulo havia construído bem. O mesmo se dá conosco. Não deseja de coração ajudar aqueles a quem instrui a desenvolver qualidades cristãs duráveis que os habilitem a manter-se firmes diante de tentações e de pressões que lhes possam sobrevir? Sim, quão recompensador é ver pessoas sedentas da verdade da Bíblia e seus filhos resistir a tais provas ardentes! Isto comprova que você construiu bem. Seja esta sua recompensa ao passo que constrói sobre o alicerce correto, com materiais à prova de fogo, buscando ao mesmo tempo a bênção de Jeová sobre seus esforços.