“Todos começaram a dar-lhe testemunho favorável e a maravilhar-se das palavras cativantes que saíam de sua boca.” — LUCAS 4:22.
Os oficiais não cumpriram a sua missão. Foram enviados para prender Jesus Cristo, mas voltaram de mãos vazias. Os principais sacerdotes e os fariseus queriam uma explicação: “Por que é que não o trouxestes para cá?” Realmente, por que os oficiais não prenderam o homem que nem resistiria? Os oficiais explicaram: “Nunca homem algum falou como este.” Eles ficaram tão impressionados com o ensino de Jesus, que não tiveram coragem de prender aquele homem pacífico. — João 7:32, 45, 46.
Esses oficiais não foram os únicos que ficaram impressionados com o ensino de Jesus. A Bíblia nos diz que multidões compareciam só para ouvi-lo falar. As pessoas da cidade onde ele fora criado maravilhavam-se “das palavras cativantes que saíam de sua boca”. (Lucas 4:22) Em mais de uma ocasião, de dentro de um barco ele falou a grandes multidões reunidas no litoral do mar da Galileia. (Marcos 3:9; 4:1; Lucas 5:1-3) Certa vez, “uma grande multidão” ficou com ele por vários dias, até mesmo sem comer. — Marcos 8:1, 2.
O que fez de Jesus um instrutor extraordinário? Foi primariamente o amor. Jesus amava as verdades que transmitia e as pessoas que ensinava. Mas ele também tinha um domínio extraordinário dos métodos de ensino.
Não é incomum pessoas bem instruídas usarem uma linguagem que está muito além do entendimento dos seus ouvintes. Mas, se outros não entendem o que dizemos, como podem tirar proveito de nosso conhecimento? Jesus, como instrutor, nunca usava linguagem além do entendimento dos outros. Imagine o amplo vocabulário que ele poderia ter tido à sua disposição. No entanto, apesar do seu enorme conhecimento, ele pensava nos seus ouvintes, não em si mesmo. Sabia que muitos deles eram “indoutos e comuns”. (Atos 4:13) Para fazê-los entender, ele usava uma linguagem que essas pessoas podiam compreender. As palavras eram simples, mas as verdades que transmitiam eram profundas.
Por exemplo, considere o Sermão do Monte, registrado em Mateus 5:3-7:27. Jesus talvez tenha levado apenas 20 minutos para proferir este sermão. Mas os ensinos dele são profundos, chegando ao âmago de assuntos tais como adultério, divórcio e materialismo. (Mateus 5:27-32; 6:19-34) Todavia, não contêm expressões complexas ou pomposas. De fato, praticamente não há ali nenhuma palavra que mesmo uma criança não possa compreender! Não é de admirar que, quando ele terminou, as multidões — provavelmente incluindo lavradores, pastores e pescadores — ‘tenham ficado assombradas com o seu modo de ensinar’. — Mateus 7:28.
Usando muitas vezes frases claras e breves, Jesus fazia declarações simples, mas cheias de significado. Numa época em que ainda não se imprimiam livros, ele conseguiu gravar a sua mensagem de forma indelével na mente e no coração dos seus ouvintes. Note alguns exemplos: “Ninguém pode trabalhar como escravo para dois amos; . . . não podeis trabalhar como escravos para Deus e para as Riquezas.” “Parai de julgar, para que não sejais julgados.” “Pelos seus frutos reconhecereis estes homens.” “As pessoas com saúde não precisam de médico, mas sim os enfermos.” “Todos os que tomarem a espada perecerão pela espada.” “Pagai de volta a César as coisas de César, mas a Deus as coisas de Deus.” “Há mais felicidade em dar do que há em receber.” (Mateus 6:24; 7:1, 20; 9:12; 26:52; Marcos 12:17; Atos 20:35) Até o dia de hoje, cerca de 2.000 anos depois de proferidas por Jesus, essas declarações vigorosas são facilmente lembradas.
Jesus fazia uso notável de perguntas. Muitas vezes as fazia mesmo quando teria levado menos tempo se mencionasse apenas o ponto em questão aos seus ouvintes. Então, por que fazia perguntas? Ocasionalmente, ele usava perguntas incisivas para expor a motivação dos seus opositores, fazendo-os assim calar-se. (Mateus 12:24-30; 21:23-27; 22:41-46) Em muitos casos, porém, Jesus tomava tempo para fazer perguntas a fim de transmitir verdades, para fazer com que seus ouvintes expressassem o que tinham no coração, e para estimular e treinar o raciocínio dos seus discípulos. Vejamos dois exemplos, ambos envolvendo o apóstolo Pedro.
Primeiro, considere a ocasião em que os cobradores de impostos perguntaram a Pedro se Jesus pagava o imposto do templo. Pedro, que às vezes agia de modo impulsivo, respondeu: “Sim.” No entanto, pouco depois, Jesus raciocinou com ele: “ ‘O que achas, Simão? De quem recebem os reis da terra os direitos ou o imposto por cabeça? Dos seus filhos ou dos estranhos?’ Quando ele disse: ‘Dos estranhos’, Jesus disse-lhe: ‘Realmente, então, os filhos estão isentos de impostos.’ ” (Mateus 17:24-27) O objetivo das perguntas de Jesus devia ter sido óbvio para Pedro. Por quê? Nos dias de Jesus, sabia-se que os membros da família dos monarcas eram isentos dos impostos. De modo que Jesus, como Filho unigênito do Rei celestial adorado no templo, não devia ser obrigado a pagar o imposto. Note que Jesus, em vez de apenas dizer a Pedro a resposta correta, usou perguntas eficazes mas bondosas para ajudá-lo a chegar à conclusão certa — e talvez também para ajudá-lo a ver que era preciso pensar com mais cuidado antes de falar.
O segundo exemplo envolveu um incidente que ocorreu na noite da Páscoa de 33 EC, quando uma turba veio prender Jesus. Os discípulos perguntaram-lhe se deviam lutar em defesa dele. (Lucas 22:49) Sem esperar a resposta, Pedro decepou com uma espada a orelha de um homem (embora talvez quisesse infligir um ferimento mais grave). Pedro agiu de modo contrário à vontade do seu amo, porque Jesus estava plenamente preparado para se entregar. Como reagiu Jesus? Sempre paciente, fez três perguntas a Pedro: “Não devia eu de toda maneira beber o copo que o Pai me tem dado?” “Pensas que não posso apelar para meu Pai, para fornecer-me neste momento mais de doze legiões de anjos? Neste caso, como se cumpririam as Escrituras, de que tem de realizar-se deste modo?” — João 18:11; Mateus 26:52-54.
Reflita por um momento nesse relato. Jesus, cercado por uma turba irada, sabia que sua morte era iminente e que cabia a ele limpar o nome do seu Pai e salvar a família humana. No entanto, nessa ocasião tomou tempo para incutir verdades importantes na mente de Pedro por fazer perguntas. Não é evidente que Jesus reconhecia o valor de se fazerem perguntas? Jesus, no seu ministério, muitas vezes usava outro método eficaz de ensino — a hipérbole. Esta é um exagero intencional para dar ênfase. Com a hipérbole Jesus criava quadros mentais difíceis de esquecer. Vejamos alguns exemplos.
No Sermão do Monte, ao salientar a necessidade de ‘parar de julgar’ outros, Jesus disse: “Então, por que olhas para o argueiro no olho do teu irmão, mas não tomas em consideração a trave no teu próprio olho?” (Mateus 7:1-3) Consegue visualizar a cena? Alguém com a tendência de ser crítico se oferece para extrair um mero argueiro, ou cisco, do “olho” do seu irmão. O crítico alega que a avaliação do seu irmão é falha porque ele não vê as coisas com clareza. Mas a capacidade de julgar do próprio crítico está comprometida por uma “trave” — uma viga, ou tronco, que poderia ser usada para sustentar um telhado. Que maneira inesquecível de salientar quão tolo é criticar pequenas falhas de nossos irmãos, quando nós mesmos talvez tenhamos grandes falhas!
Em outra ocasião, Jesus acusou os fariseus de serem ‘guias cegos, que coavam o mosquito, mas engoliam o camelo’. (Mateus 23:24) Essa era um uso especialmente forte duma hipérbole. Por quê? O contraste entre um mosquito minúsculo e um camelo, um dos maiores animais conhecidos pelos ouvintes de Jesus, era notável. Calcula-se que seriam necessários uns 70 milhões de mosquitos para igualar ao peso de um camelo comum! Jesus sabia também que os exigentes fariseus coavam seu vinho com um pano. Faziam isso para evitar engolir um mosquito e assim se tornar cerimonialmente impuros. No entanto, eles de modo figurativo engoliam um camelo, que também era impuro. (Levítico 11:4, 21-24) O ponto salientado por Jesus era claro. Os fariseus acatavam meticulosamente os menores requisitos da Lei, mas desconsideravam os assuntos mais importantes — “a justiça, a misericórdia e a fidelidade”. (Mateus 23:23) Com que clareza Jesus expôs o que eles eram!
No decorrer do seu ministério, Jesus usou hipérboles muitas vezes. Considere alguns exemplos. “Fé do tamanho dum [pequeno] grão de mostarda” que pode transferir um monte — Jesus dificilmente poderia ter achado um meio mais eficaz de enfatizar que mesmo um pouco de fé pode realizar muito. (Mateus 17:20) Um enorme camelo tentar passar pelo orifício duma agulha de costura — quão bem isso ilustra a dificuldade com que se confronta um rico que procura servir a Deus ao mesmo tempo em que se apega a um estilo de vida materialista! (Mateus 19:24) Não fica maravilhado com as vívidas figuras de linguagem de Jesus e sua habilidade de causar o máximo efeito com o mínimo de palavras? Jesus, com sua mente perfeita, era um mestre em argumentação lógica. Todavia, ele nunca abusou dessa habilidade. No seu ensino, sempre usava suas aguçadas faculdades mentais para promover a verdade. Ocasionalmente, ele usava lógica convincente para refutar as acusações falsas de seus opositores religiosos. Em muitos casos, usava uma argumentação lógica para ensinar aos discípulos lições importantes. Vejamos a habilidade magistral de Jesus usar a lógica.
Considere a ocasião em que Jesus curou um homem possesso de demônio, que era cego e incapaz de falar. Ao saberem disso, os fariseus disseram: “Este não expulsa os demônios senão por meio de Belzebu [Satanás], o governante dos demônios.” Note que os fariseus admitiram que era preciso um poder sobre-humano para expulsar os demônios de Satanás. Todavia, para impedir que as pessoas cressem em Jesus, atribuíram a Satanás o poder que ele tinha. Mostrando que não refletiram bem no seu argumento, para levá-lo a uma conclusão lógica Jesus respondeu: “Todo reino dividido contra si mesmo cai em desolação, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não permanece. Do mesmo modo, se Satanás expulsa a Satanás, ele ficou dividido contra si mesmo; como permanecerá então o seu reino?” (Mateus 12:22-26) Na realidade, Jesus estava dizendo: ‘Se eu fosse, como dizem, um agente de Satanás, desfazendo o que este fez, então ele estaria agindo contra os seus próprios interesses e logo cairia.’ Não era esta uma forte lógica?
Jesus raciocinou ainda mais sobre o assunto. Sabia que alguns entre os próprios fariseus haviam expulsado demônios. Por isso, fez uma pergunta simples, mas devastadora: “Se eu expulso os demônios por meio de Belzebu, por meio de quem os expulsam os vossos filhos [ou discípulos]?” (Mateus 12:27) Em certo sentido, o argumento de Jesus era: ‘Se eu, de fato, expulso demônios com o poder de Satanás, então os vossos próprios discípulos devem estar agindo com este mesmo poder.’ O que iriam dizer os fariseus? Eles nunca reconheceriam que seus discípulos agiam com o poder de Satanás. Jesus, com lógica irrefutável, mostrou que a acusação deles contra ele era um absurdo. Além de usar lógica para calar os seus opositores, Jesus usava também argumentos lógicos e persuasivos para ensinar animadoras verdades positivas a respeito de Jeová. Ele usou várias vezes uma forma de raciocínio caracterizada pela expressão ‘quanto mais’, para ampliar o conhecimento dos seus ouvintes à base duma verdade que já conheciam. Vejamos apenas dois exemplos.
Respondendo ao pedido dos seus discípulos de lhes ensinar a orar, Jesus contou a ilustração de um homem, cuja “persistência ousada” finalmente persuadiu um amigo relutante a lhe conceder o que pediu. Jesus falou também da disposição dos pais de “dar boas dádivas” aos filhos. Daí ele concluiu: “Se vós, embora iníquos, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais o Pai, no céu, dará espírito santo aos que lhe pedirem!” (Lucas 11:1-13) O ponto salientado por Jesus não se baseava numa similaridade, mas num contraste. Se um amigo relutante por fim podia ser convencido a atender a necessidade dum vizinho, e se pais humanos imperfeitos cuidam das necessidades dos filhos, quanto mais o nosso amoroso Pai celestial concederá espírito santo aos seus servos leais, que se dirigem a ele humildemente em oração!
Jesus usou uma argumentação similar ao dar conselho sobre a ansiedade relacionada com coisas materiais. Disse: “Notai bem que os corvos nem semeiam nem ceifam, e que eles não têm nem palheiro nem celeiro, contudo, Deus os alimenta. De quanto mais valor sois vós do que as aves? Notai bem como os lírios crescem; eles nem labutam nem fiam . . . Então, se Deus reveste assim a vegetação do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais vestirá ele antes a vós, ó vós com pouca fé!” (Lucas 12:24, 27, 28) De fato, se Jeová cuida de aves e de flores, quanto mais cuidará de seus servos! Essa terna, mas forte argumentação, sem dúvida, tocou o coração dos ouvintes de Jesus.
Depois de considerar alguns dos métodos de ensino de Jesus, podemos facilmente chegar à conclusão de que aqueles oficiais que não o prenderam de modo algum estavam exagerando quando disseram: “Nunca homem algum falou como este.” Mas o método de ensino pelo qual Jesus talvez seja mais conhecido é o uso de ilustrações ou de parábolas. Por que ele usava esse método? E o que tornava as ilustrações dele tão eficazes?